ARTETERAPIA: INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO E
AUTOCONHECIMENTO DO POTENCIAL CRIATIVO
Cássia de Fátima da Silva Souza1
Rita Leolinda C.C. dos Anjos2
1ASSOCIAÇÃO POTIGUAR DE ARTETERAPIA – ASPOART, cassiaprojec@yahoo.com.br
2ASSOCIAÇÃO POTIGUAR DE ARTETERAPIA – ASPOART, ritaleolinda@yahoo.com.br
Resumo: O presente trabalho tem o
propósito de relacionar a Arteterapia como possibilidade de “transformação” do SER
a partir do autoconhecimento do potencial criativo, levando o sujeito a ser
autor de sua trajetória. O trabalho foi desenvolvido com os profissionais da
área administrativa de uma Instituição de Ensino Superior, no município de
Lagarto, em Sergipe, com o objetivo de oferecer um espaço reflexivo em que os
participantes tivessem a oportunidade de aprender a
energizar-se e a melhorar a baixa auto estima aprendendo a lidar com sua
essência desenvolvendo seus potenciais de maneira natural e equilibrada,
promovendo o seu desenvolvimento pessoal e profissional através das qualidades
dos quatro arquétipos, utilizando os recursos da arteterapia em oficinas
criativas.
Palavras-chave: Arteterapia, Potencial
criativo, Autoconhecimento e Transformação.
Abstract:: This paper aims to relate to Art Therapy as a possibility of "transformation" of the SER from the creative potential of the self, leading
the subject to be author of
his career. The study was conducted
with the administrative workers of a higher education
institution in the town of Lagarto,
Sergipe, with the goal of providing
a reflective space in which participants had the opportunity to learn how to energize and improve the
low self-esteem, learning to deal
with essentially developing their
potential in a natural and balanced, promoting their personal and
professional development through the qualities of the four archetypes, using the resources of creative art therapy workshops.
Keywords:: Art Therapy, Creative Potential, Self and Transformation.
Introdução
A sociedade moderna sofreu uma
transformação radical, caracterizando-se como uma “sociedade globalizada”,
impulsionada pela agilidade da informação e conseqüente intensificação das
comunicações em nível mundial. Neste contexto as instituições de ensino
superior expandiram por toda a parte do país, e sinaliza também para a mudança
nas relações e papéis exercidos pelos diferentes profissionais que nela atuam.
Estes profissionais são desafiados a adquirir habilidades e atitudes novas, a
buscar estratégias alternativas, a garantir a posse de condições que dêem
sustentação a instituição, frente às constantes mudanças. É preciso sobreviver
nesse cotidiano acadêmico ágil, complexo, com metas a serem alcançadas, prazos
a cumprir, capacitar-se continuamente, desempenhar várias funções, ser proativo
independente da função que exerça.
Nas instituições de ensino, é fundamental o exercício da criatividade,
como elemento de propulsão no processo educativo. A ação do profissional nas
organizações, de uma maneira geral, mas especialmente do profissional ligado à
educação superior, deve ser balizada por experiências criativas. As
experiências estimuladoras da criatividade pressupõem o desenvolvimento das
relações e das descobertas
pessoais, uma vez que a criatividade existe na relação do indivíduo e seu meio.
As atitudes criativas levam à autoconfiança, pelo estímulo ao
desenvolvimento de aptidões e conhecimento das características e limitações
pessoais. O ser criativo é aquele que consegue fazer
associações de idéias, derivando daí, diversidade de respostas a uma situação
estimuladora.
A arte é a linguagem natural da humanidade e representa um caminho de
conhecimento da realidade humana (Ostrower, 1998, p. 25-26). Sendo assim, ela
se faz presente, juntamente com a ciência, desde as primeiras manifestações
humanas, pois, ao percorrermos a história, veremos, ou melhor, perceberemos que
todos somos criadores, tendo esse poder gerador dentro de nós, pronto para ser
acessado e, assim, fecundar nosso tempo segundo as nossas próprias
potencialidades criativas.
Ao rabiscar, desenhar, pintar, recortar, modelar, colar, etc., a pessoa
pode expressar, comunicar e atribuir sentido a sensações, sentimentos,
pensamentos e à realidade. A arte indica aos indivíduos as possibilidades de
fluição, transformação, construção e criação.
Fischer (2002) afirma ser a arte necessária, à medida que a vida do
homem se torna mais complexa e mecanizada, mais dividida em interesses e
classes, esquecida do espírito coletivo. Acrescenta que a função da arte é
refundir esse homem, torná-lo novo e são (p. 8), concluindo, que a arte é o
meio indispensável para a união do indivíduo como o todo (p. 13).
Não existe apenas uma definição sobre o que é arte. Sabemos que a idéia
de arte é construída socialmente, com base em referências históricas, através
de teorias e outras referências sobre a formação escolar e os contextos
socioculturais.
Somamos a estas reflexões as contribuições de Pareyson (1997) ao
entender a arte como fazer, como conhecer ou como exprimir. A arte, enquanto
fazer, não pode ser vista somente no sentido de executar, pois, várias
atividades humanas têm seu lado executivo e de realização. Assim, não basta o
fazer para se definir a arte. Faz-se preciso entendê-la também como invenção.
“Ela é um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer”
(p. 21-22), sendo uma atividade que, de forma simultânea e inseparável,
articula execução e invenção.
Buscamos ressonâncias com Ostrower (1998), artista e educadora, que, ao
dedicar os seus estudos teóricos e práticos a respeito da criatividade e
processos de criação, admite que todos os seres nascem com potencialidades
sensíveis e nos convida a pensar que:
A capacidade de criar formas expressivas contém um
forte componente afetivo. Para criar, é preciso, dar-se de corpo e alma,
integrar a matéria em questão, identificar-se com ela a fim de poder sondar as
possibilidades de configurá-la em desdobramentos formais. (p.224)
Para a autora a arte é uma necessidade espiritual do ser humano, tendo
como prova disso o fato irrefutável de todas as culturas na história da
humanidade, desde os tempos mais longínquos até a atualidade, terem criado
obras de arte em pintura, em escultura, em música, em dança como forma de expressão da
essencial realidade de seu viver.
As possibilidades que o ser humano tem diante de si para exercitar sua
expressão criativa são inúmeras. Mas, ao longo do tempo tem se dado muito
privilégio à mente, mas sabemos que trabalhar com as mãos, com o corpo, com a
voz, assim como saber ouvir, tem se tornado equilibrador, principalmente para
pessoas que se encontram presas em e por uma sociedade tão ligada a mente e,
paralelamente, tão superficial.
Com a intenção de proporcionar
aos profissionais da área administrativa de uma Instituição de Ensino Superior, um espaço agradável utilizando os recursos da Arteterapia
como caminho para o autoconhecimento, o contato e descoberta do seu potencial
criativo, focalizando o desenvolvimento pessoal e profissional é que concebemos
e desenvolvemos o projeto.
O objetivo do trabalho foi
oferecer um espaço reflexivo em que os participantes tivessem a oportunidade de
aprender a energizar-se e melhorar a baixa auto
estima aprendendo a lidar com sua essência desenvolvendo seus potenciais de
maneira natural e equilibrada, promovendo o seu desenvolvimento pessoal e
profissional através das qualidades dos quatro arquétipos, utilizando os
recursos da arteterapia em oficinas criativas.
Desenvolvimento
Faremos um breve relato da
experiência vivenciada pelos 16 (dezesseis) profissionais da área administrativa de uma
Instituição de Ensino Superior, no município de Lagarto, por meio da oficina de criação que designamos: “Espaços de desenvolvimento e auto
conhecimento do seu potencial”.
Para tanto, foram realizadas as oficinas criativas de
março a setembro de 2010, através de 6 (seis) sessões.
Os encontros foram mensais, sendo
02 (duas) horas a duração de cada um. Os temas propostos nos encontros foram:
Quem sou eu? (percepção de si mesmo) Eu e o meu trabalho; A visão sistêmica e
ética na transformação das organizações; A Cooperação criativa em tempos de
mudança; O caminho quádruplo na construção de lideranças criativas e de caráter
(Como o Guerreiro, o Curador, O Visionário e o Mestre se revela e as práticas
essenciais para o desenvolvimento de cada um dos arquétipos na sua vida pessoal
e profissional).
Cada sessão foi
preparada de forma minuciosa e a
elaboração das oficinas desenvolvidas nos encontros era detalhada de forma a
contemplar todas as etapas necessárias e indispensáveis numa oficina criativa.
Primeiro a sensibilização onde
o importante são os sentimentos e descobertas evocados no íntimo de cada ser
participante. Após a sensibilização vem a expressão
livre, em que o indivíduo através de materiais artísticos como pintura,
tinta, desenho, materiais de sucatas, etc. expressam livremente o que
vivenciaram anteriormente. Chega, então, o momento da elaboração da expressão, onde acontece o aprimoramento da linguagem
escolhida pelo participante. Em seguida a transposição
de linguagem onde o sujeito transpõe de forma oral ou escrita o que
vivenciou. E a avaliação onde ocorre a conscientização e a percepção crítica da
experiência vivida. É interessante e imprescindível que possa ser feito algum tipo
de fechamento sobre o trabalho realizado ao final de cada encontro.
As seis oficinas foram planejadas
buscando oportunizar aos participantes a entrar em contato com o seu potencial
criativo, encontrando e ou reencontrando o seu caminho próprio, resgatando o
sentido originário da palavra saber, que significa saborear, mediado por
atividades expressivas, em interlocução com diferentes abordagens (corporal,
cênica, plástica, poética, musical).
Assim, todos poderiam vivenciar
de seu jeito, consciente e sensivelmente, a sua complexidade, além da
possibilidade de aprender a energizar-se e melhorar a baixa auto estima
aprendendo a lidar com sua essência desenvolvendo seus potenciais de maneira
natural e equilibrada, promovendo o seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Segundo Fayga Ostrower
(1998) “Na experiência, ninguém impõe nada a ninguém; enriquecemos porque
crescemos espiritualmente e, no que crescemos, ganhamos maior liberdade no
viver”.
Nas sessões foram utilizadas práticas expressivas e artísticas,
trabalhos de corpo movimento, danças, cantos, pinturas e colagens, trabalhos
individuais e em grupo na construção de dinâmicas interativas.
O ambiente o qual acontecia as oficinas foi cuidado e preparado para
acolher os participantes, para a realização de diálogos, para a tomada da
palavra respeitando a escolha de cada um quanto ao material a ser utilizado. A
cada encontro buscávamos criar surpresas que despertassem a curiosidade e a
imaginação.
As expressões
artísticas criativas tiveram como pano de fundo a própria vida pessoal e
profissional dos participantes. As experiências vividas serviram como fonte de
inspiração. As imagens que representaram através das várias linguagens
artísticas possuíam grande conteúdo expressivo.
Assim os processos
criativos emergem com alegria e simplicidade. Por vezes parece que as oficinas
criativas são construídas a partir de um nível de elaboração imensa. Mas a
verdade é que, ao desencandear uma proposta, visualizamos o objetivo final e,
de forma intuitivamente sábia as etapas se articulam e constituem um processo
livre de “amarras” com o passado, e portanto, conectados no momento presente.
Sabemos que a arte é um elemento muito importante
na vida de cada pessoa e que o profissional da área administrativa, de modo
especial, pode munir-se, através da arte, de uma riqueza inestimável de recursos
que auxiliem sua tarefa diária,
principalmente a partir do momento em que se conscientize de que pode e
é interessante que trabalhe, também, seu potencial criativo, reestruturando a
concepção de que cada um ser possui um saber, que não se restringe ao
cognitivo, ou ao lógico-matemático, mas abarca todos os tipos de inteligência e
lhe possibilita a busca de diferentes maneiras de transmitir a mesma mensagem e
realizar de diferentes maneiras uma atividade.
Trata-se de
pesquisa qualitativa, pautada em metodologia construtivista, sob a forma de
relato de experiência.
A base de todo
trabalho desenvolvido em ateliê Arteterapeutico, foi Oficinas Criativas,
sistematizadas por Allessandrini (1996) visam integrar expressão verbal e não
verbal, com os processos de transformação no desenvolvimento humano, bem como,
com a utilização de dinâmicas de grupo, vivências e atividades de modo a
permitir que sentidos e significados venham à tona e assim sejam elaborados
permitindo evocar o criativo. A oficina Criativa funciona como instrumento facilitador, pois cada
pessoa pode ser convidada a, efetivamente, descobrir e evocar seu projeto
pessoal. (ALLESSANDRINI, 2004, p.87.).
O uso dessa metodologia garante uma
coerência de ação nas vivências propostas que favorece a estruturação e a
organização interna do cliente. É importante ressaltar, que tal metodologia e
tal coerência para a organização dos encontros, não é rígida, permitindo uma
fluidez e uma inter-relação entre os aspectos encontrados nos níveis, em
diferentes âmbitos. Há um ir e vir constante nas ações, e essa ordenação na
descrição. Ocorre por uma questão didática frente ao estudo que se apresenta,
que não pode ser confundida com passos a serem seguidos de forma rígida, o que
aprisionaria tanto o cliente como o arteterapeuta.
Recorremos a observação
direta, e para a realização da analise de dados utilizamos como base a
metodologia da análise retrodutiva (GARCIA, 2002).
Os instrumentos utilizados
para coleta de dados e analise dos resultados foram as observações registradas,
as fotografias, os registros das atividades desenvolvidas por meio da
utilização de recursos artísticos e expressivos, realizada junto a um grupo de
16 (dezesseis) profissionais da área administrativa da Faculdade, com faixa
etária entre 20 a 43 anos, sendo quatro do sexo masculino.
Resultados e
Conclusões
As vivências
propiciaram encontrar-se consigo mesmo, despertar e o iluminar de
"caminhos", possibilitando que cada participante encontrar saídas
simples, pessoais e criativas; confiança no seu potencial e nos resultados da
própria experiência, construindo assim o seu caminho na vida pessoal e
profissional com mais prazer, responsabilidade, flexibilidade, cooperação,
integração, respeito e confiança.
A utilização da Arteterapia
dentro das organizações de ensino superior é um caminho a ser trilhado e
compartilhado consigo mesmo com o outro e com a organização.
Podemos constatar o poder que a
arteterapia tem no processo de transformação e autoconhecimento do potencial
criativo. E como o trabalho de atividades expressivas realizadas no contexto
institucional pode promover a abertura ao novo, contribuindo para que cada um
dos funcionários perceba-se como ser criativo, capaz de desenvolver
suas potencialidades de maneira natural e equilibrada, promovendo o seu
desenvolvimento pessoal e profissional.
Os recursos artísticos auxiliam
no desenvolvimento da criatividade e do
potencial pessoal, aprimorando as relações inter-pessoais, resgatando a energia
dos quatro arquétipos universais do Guerreiro, do Curador, do Visionário
e do Mestre que se lastreiam nas raízes míticas mais profundas da humanidade.
Nós podemos ter acesso à sua sabedoria aprendendo a viver esses arquétipos
internamente, resgatando a criatividade, a sensibilidade e originalidade mediado
pelos recursos da Arteterapia.
O trabalho realizado
de março a
setembro de 2010 na Instituição de Ensino superior mostraram
como a arteterapia pode ser utilizada como interface entre os vários campos do
conhecimento, colaborando sobremaneira na formação pessoal e profissional dos
funcionários de instituições educacionais, transformando suas ações nos
diferentes segmentos, elaborando a comunicação entre as possibilidades e
limites próprios da ciência e a expressiva liberdade de criação da arte;
fazendo ligações entre anseios gerados pelo mundo atual com o mais remoto
passado, enfim promovendo o desenvolvimento do potencial criativo humano
através de situações que favoreçam a transformação do ser.
Referências
Bibliográficas
1. ALLESSANDRINI, C. D. Oficina Criativa e
Psicopedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
2. ______________.
Análise microgenética da oficina
criativa: projeto de modelagem em argila. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004, 360p.(Coleção Arteterapia).
3. ARCURI, I. G. (org.). Arteterapia: um novo
campo do conhecimento São Paulo: Vector, 2006.
4. ARRIEN, A. O caminho quádruplo.
São Paulo: Agora, 1997.
5. BELLO, Susan.
Bello. Pintando sua alma. Método de desenvolvimento da personalidade
criativa. Rio de Janeiro: Wak, 2003.
6. GARCIA, Rolando. O conhecimento em construção: das
formulações de Jean Piaget à teoria de sistemas complexos. Tradução de Valério
Campos. Porto Alegre: Artmed, 2002.
7. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 2000.
8. FISCHER, E. (1959). A necessidade da arte. 7a
ed. Trad. de Leandro Konder. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
9. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação.
Petrópolis: Vozes, 1998.
10. PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. São
Paulo: Martins Fontes, 1997.